O avanço tecnológico tem permitido
o desenvolvimento de novas aplicações utilizando
redes de comunicação cada vez mais sofisticadas
e com sistemas computacionais ainda mais complexos.
O projeto de interconexão dessas novas redes exige
um planejamento cuidadoso e coordenado que envolve
a utilização de hardware e software de fabricantes
diferentes em um �nico ambiente, o hardware sendo
composto por uma combinação de dispositivos e acessórios
com diferentes graus de complexidade e o software
caracterizado por sistemas de uso geral (aplicativos
de usuários) e também de uso específico (sistemas
operacionais de rede). Para lidar com essa complexidade
crescente e assegurar sua sobrevivência no mercado,
as corporações têm investido na interligação de
suas redes segundo estruturas que seguem metodologias
e padrões. Este artigo tem como objetivo abordar
alguns aspectos importantes na caracterização da
metodologia e o modelamento da tecnologia utilizados
para a elaboração e desenvolvimento de um projeto
de interconexão de redes.
Palavras-chave: Redes; Metodologia;
Projeto; Interconexão.
1. Iniciando o projeto
Seria possível desenvolver um projeto
de interconexão de redes sem utilizar uma metodologia
de desenvolvimento e tecnologia adequada? Em princípio,
a resposta para esta questão seria que é possível
sim. Entretanto, o resultado obtido, em termos de
eficiência, qualidade e produtividade certamente
estaria abaixo do esperado pelos usuários dessa
rede. Um projeto como este pode estar condenado
ao fracasso mesmo antes de ser iniciado se não resultar
em vantagens e melhorias práticas para os usuários
a que se destina. Afinal, os usuários da rede esperam
de um projeto soluções definitivas e econ�micas
para seus problemas e não apenas paliativos.
A qualidade e eficiência de uma
rede têm relação direta com o seu projeto, com as
operações realizadas entre suas estações, com sua
confiabilidade e seu custo operacional. Desta maneira,
o projeto de interconexão de redes requer selecionar
tecnologias e escolher as configurações que atendam
tanto os aspectos técnicos quanto os requisitos
de seus usuários. Para tanto, é possível abordar
tal projeto de diversas formas, mas a maioria dos
projetos bem sucedidos obedece algumas diretrizes
fundamentais.
Para ser considerado eficiente,
um projeto precisa satisfazer diversos requisitos,
desde funcionalidades operacionais até a performance
dos sistemas e equipamentos destinados aos usuários.
Neste caso, o papel do projetista é elaborar uma
estrutura eficiente, baseada em uma metodologia
de trabalho e utilizando técnicas e ferramentas
adequadas.
2. Definindo metas
Uma interconexão de redes pode
ser definida como duas ou mais redes locais (LAN�s)
interconectadas por um ou mais dispositivos da camada
de rede (camada 3 do modelo OSI). Essa interconexão
pode estar restrita a uma edificação, a um campus
ou mesmo ter �mbito mundial (Birkner,
2003).
O primeiro passo para o projeto
de interconexão é estabelecer e documentar as metas
do projeto. Essas metas variam conforme a organização
envolvida ou situação particular dos usuários. Entretanto,
alguns requisitos básicos têm presença garantida
em um bom projeto de redes:
Escalabilidade � A
rede deve ser capaz de crescer junto com a organização
e o projeto inicial deve garantir este crescimento,
ou seja, a rede pode ser redimensionada no futuro
ainda que uma expansão não seja necessária na
atualidade;
Funcionalidade � A
rede deve permitir aos usuários plena satisfação
de suas necessidades, proporcionando uma disponibilidade
de aplicação fim a fim em algum nível específico
de serviço;
Adaptabilidade � A
rede deve suportar as tecnologias atuais e futuras
e não teve possuir nenhum componente que possa
limitar a utilização de novas tecnologias disponíveis;
Gerenciamento � O projeto
deve permitir facilidade de monitoramento e
gerenciamento da rede para garantir a operação
contínua do sistema e disponibilidade de recursos;
Custos � O retorno
em benefícios proporcionado pela rede deve ser
quantificado, devendo pagar ou superar o investimento
feito no projeto. O custo de implementação do
projeto de rede deve estar dentro do orçamento
estabelecido.
Muitas vezes a razão para um retorno
negativo após a conclusão de uma melhoria na rede
está em uma falha ocorrida no início do projeto,
no momento de se fazer três estimativas importantes:
o custo para a implantação, os benefícios a serem
alcançados e os recursos disponíveis.
Para que um projeto de interconexão
seja viável (e econ�mico), ele deve prover benefícios
que excedam os custos e não deve vincular custos
que excedam os recursos disponíveis. Por exemplo,
o custo de uma rede pode ser dividido entre o custo
das estações de processamento (computadores, servidores,
etc), o custo das interfaces com o meio de comunicação
e o custo do próprio meio de comunicação. Do custo
das conexões e interfaces dependerá muito o desempenho
que se espera da rede. Redes de baixo a médio desempenho
usualmente empregam poucas estações com um baixo
throughput (a quantidade de dados transmitida
em uma unidade de tempo). Com isso, as interfaces
e conexões normalmente são de baixo custo devido
as suas limitações e aplicações. Redes de alto desempenho
(alto throughput) requerem interfaces e conexões
de custos mais elevados devido em grande parte aos
protocolos de comunicação utilizados e ao meio de
comunicação que exige uma maior eficiência no controle
de erros.
3. Metodologias de projeto
Podemos definir um projeto como
um trabalho não repetitivo e temporário caracterizado
por uma seq�ência clara e lógica de eventos, tendo
como finalidade produzir um bem com características
próprias que o diferenciam de outros que, eventualmente,
já existam, sendo conduzido por pessoas, dentro
de par�metros de tempo, custo, recursos e qualidade.
Consequentemente, os procedimentos para a execução
de um projeto de interconexão de redes requerem
um trabalho sistematizado, a partir de uma visão
estratégica e objetiva da realidade dos usuários,
assim como a organização e coordenação das ações
a serem desencadeadas para sua correta execução.
Utilizar uma metodologia de projeto
de interconexão é estabelecer um processo sistemático
de criação de redes que tem seu foco nas metas técnicas,
nos trade-offs (ajustes de custos) técnicos
e comerciais, nos aplicativos e na finalidade do
negócio do usuário. A metodologia deve dar ênfase
ao planejamento antes da execução, permitindo analisar
as metas globais e depois adaptar a estrutura de
rede proposta à medida que obtém mais detalhes sobre
necessidades específicas dos seus usuários.
Para um projeto de interconexão
de redes podemos usar uma metodologia simples que
envolve inicialmente o projeto da topologia da rede
e estrutura de nomes e endereçamento que serão adotados.
Os passos seguintes envolvem a especificação do
hardware necessário, a seleção dos protocolos de
enlace, comutação e roteamento, as estratégias para
monitoração, segurança e gerenciamento da rede,
conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1 � Fluxograma de metodologia
para uso em projeto de redes
4. Análise de requisitos
A implantação de um tipo particular
de topologia de rede para dar suporte a um dado
conjunto de aplicações não é uma tarefa muito simples.
Cada arquitetura possui características que afetam
sua adequação a uma aplicação particular. Nenhuma
solução pode ser classificada como definitiva quando
analisada em um contexto geral. Muitos requisitos
devem ser observados individual e cuidadosamente,
o que torna qualquer comparação bastante difícil
e complexa. Em muitos casos deve-se dar preferência
por soluções modulares.
A modularidade de uma rede pode
ser caracterizada como o grau de alteração de desempenho
e funcionalidade que a rede pode sofrer com alterações
no seu projeto original. Entre os benefícios que
as arquiteturas modulares podem oferecer estão as
facilidades para modificações das funções lógicas
ou de elementos de hardware. Estes podem ser substituídos
independentemente da sua relação com demais. Além
disso, um sistema modular oferece a facilidade para
crescimento no que diz respeito às configurações,
permitindo melhorias de desempenho e funcionalidade
e um baixo custo para ampliações.
Na metodologia de projeto de interconexão
de redes, a análise de requisitos envolve identificar
as necessidades do usuário e os requisitos técnicos
da rede. Esta análise de necessidades inclui não
só o negócio da corporação, como também um detalhamento
dos procedimentos e custos exigidos para atualizar
a rede de modo que ela atenda as necessidades de
seus usuários.
Segundo Pinheiro (2003):
Uma rede bem dimensionada
é caracterizada pela sua capacidade de suportar
todas as aplicações para as quais foi projetada
inicialmente, bem como aquelas que futuramente
possam surgir. Não deve ser vulnerável à tecnologia,
ou seja, seu projeto deve prever a utilização
de novos recursos, sejam novas estações, novos
padrões de transmissão, novas tecnologias, etc.
5. Projeto da topologia de interconexão
A próxima etapa do projeto é desenvolver
a topologia da rede, o que significa, na maioria
das vezes, utilizarmos um modelo hierárquico onde
a rede é dividida em três camadas: n�cleo (core),
distribuição (distribution) e acesso (access).
Cada camada tem sua própria função e descreve um
conjunto de funcionalidades distintas executadas
em cada uma, bem como a topologia de rede associada.
Em outras palavras, uma rede hierárquica
é composta por camadas de função, onde em cada uma
temos equipamentos dedicados a uma tarefa específica,
com funções distintas em camadas distintas e funções
comuns dentro de uma mesma camada, conforme ilustrado
na Figura 2.

Figura 2 - Modelo hierárquico de
três camadas
5.1. Camada de n�cleo
Neste modelo, a camada de n�cleo
(core) fornece os enlaces remotos entre redes
geograficamente distantes (WAN�s). Neste caso, os
serviços (Frame Relay, ATM, MPLS, etc) são contratados
de operadoras de serviços de telecomunicações.
A função da camada de n�cleo é
bem simples: permitir o tráfego entre as demais
camadas (distribuição e acesso), preferencialmente
da forma mais rápida possível. Os links nesta camada
devem ser dimensionados de forma a passar todo o
tráfego das camadas superiores, porém, sem gargalos.
Sugere-se que os equipamentos utilizados na camada
de n�cleo sejam iguais ou superiores aos equipamentos
posicionados na camada de distribuição.
5.2. Camada de distribuição
Na camada de distribuição temos
os serviços de rede comuns a várias LAN�s dentro
do ambiente de um campus. Nesta camada encontramos
a rede backbone de campus baseada em protocolos
como Fast Ethernet, Gigabit Ethernet, entre outros.
� na camada de distribuição das redes corporativas
em geral que encontramos os servidores de e-mail,
proxy, firewall, DMZ, entre outros.
Nesta camada temos os equipamentos
que ligam a camada de acesso ao n�cleo da rede.
As opções de equipamentos neste nível incluem o
uso de switches, switches multilayer (L3 switch)
ou roteadores. � recomendável utilizar nesta camada
um switch multilayer ou roteador mais robusto do
que os equipamentos presentes na camada de acesso.
Densidade de portas não é um problema para os equipamentos
nesta camada, bastando que cada switch apresente
portas em n�mero suficiente para garantir a conexão
na camada de acesso, bem como a redund�ncia das
rotas principais.
Como a camada de distribuição também
é responsável pelo roteamento (routing) entre
as camadas de acesso neste modelo de projeto, é
possível configurar filtros de pacotes, QoS, e outros
recursos para um gerenciamento mais eficiente do
tráfego da rede.
5.3. Camada de acesso
Na camada de acesso encontramos
uma LAN ou grupo de LAN�s, que fornece aos usuários
o acesso aos serviços disponibilizados na rede.
� nesta camada onde estão concentradas as estações
de trabalho e também onde temos a alta densidade
de portas. Com a utilização de switches, temos a
chamada micro-segmentação, onde cada porta
de um switch consistirá em um domínio de colisão
dedicado. M�ltiplos domínios de colisão oferecem
um desempenho infinitamente superior quando comparados
a um �nico domínio de colisão. Os switches de camada
de acesso devem ser projetados de acordo com o volume
de tráfego, tipos de aplicação e quantidade de estações
conectadas (o chamado port density).
� importante salientar que nem
sempre um projeto de interconexão exige equipamentos
dedicados para cada camada. Em redes menores é possível
disponibilizar ou consolidar duas camadas em um
�nico equipamento. Por exemplo, existem situações
em que combinar as camadas de distribuição e n�cleo
em um �nico equipamento (ou dois equipamentos, na
mesma camada) é uma solução bastante viável técnica
e economicamente. De qualquer forma devem-se sempre
verificar os requerimentos dos equipamentos, estimativas
de tráfego por aplicação, entre outros par�metros.
6. Modelos para endereçamento
e nomenclatura da rede
A etapa seguinte do projeto de
interconexão envolve a elaboração de um esquema
de endereçamento por meio de atribuição de blocos
de endereços para os segmentos da rede, objetivando
simplificar a administração dos endereços e possibilitar
uma interconexão mais escalável. Um esquema de nomes
também deve ser adotado de maneira sistêmica, com
prefixos comuns utilizados para nomear os componentes
de uma organização. Essa convenção de nomes torna
a rede mais escalável e fácil de ser gerenciada.
Consequentemente, a alocação cuidadosa de nomes
e endereços em um projeto hierárquico também pode
resultar em tabelas de roteamento mais simples e
eficazes.
7. Seleção do hardware
Esta etapa do projeto de interconexão
envolve a documentação fornecida pelos fabricantes
para selecionar os componentes de hardware mais
adequados para a infra-estrutura da LAN e WAN. Os
dispositivos de LAN incluem roteadores, comutadores,
switches, sistema de cabeamento e conexão de backbone
e outros mais. Já os dispositivos de WAN incluem
modems, servidores de acesso remoto, concentradores,
entre outros.
Este processo de seleção envolve
considerações a respeito das funções e recursos
disponibilizados em cada dispositivo em particular,
inclusive suas capacidades de expansão e gerenciamento.
Obviamente que o custo de aquisição do equipamento
também deve fazer parte do processo de decisão.
8. Seleção de Protocolos
A seleção dos protocolos de comutação,
roteamento e de enlace que serão utilizados no projeto
de interconexão está diretamente relacionada aos
aplicativos em uso pelos usuários e dispositivos
encontrados na rede. Neste momento, considerações
sobre os tipos de protocolos usados são críticas
e compreender o funcionamento dos outros recursos
que fornecem suporte para a segurança e monitoramento
global dos serviços pode garantir um planejamento
mais eficaz do uso das plataformas de gerenciamento
da rede.
9. Estratégias de monitoração,
segurança e gerenciamento
O �ltimo passo na metodologia é
colocar a rede em produção, ou seja, torná-la operacional.
Neste momento, um ponto muito importante que deve
ser observado na interconexão de redes é a facilidade
de uso e manutenção dos recursos disponibilizados,
tanto para os usuários quanto para seus administradores.
A rede deve possuir um conjunto
básico de componentes e ferramentas capazes de oferecer
os serviços necessários com qualidade para seus
usuários, mas também facilidades para viabilizar
a adição de novos equipamentos e manutenção do sistema
como um todo para os seus administradores. O ideal
é criar um modelo de rede em um ambiente de testes
para visualizar o impacto das alterações de configuração
propostas antes delas serem efetuadas nas comunidades
de usuários do sistema.
Outro ponto importante é a necessidade
de se obter continuamente informações operacionais
da rede para que o planejamento de aplicações que
demandam maior largura de banda possa ocorrer sem
maiores impactos. Neste caso, há uma variedade de
ferramentas de SNMP e RMON disponíveis que permitem
um gerenciamento de rede proativo.
10. Documentação do projeto
A etapa final de um projeto de
interconexão de redes envolve a elaboração da documentação,
que inclui a descrição dos requisitos dos usuários
e explica como o projeto atende a esses requisitos.
Também se documentam a rede existente, a estrutura
lógica e física, o orçamento e despesas associadas
com o projeto.
A criação de uma rede bem documentada
também oferece um formulário de referência que o
cliente poderá usar em treinamento, solução de problemas
e atualização da rede depois que você for embora
(DiMarzio, 2001). A documentação pode abranger a
execução de diagramas lógicos e topologia, plantas
de arquitetura refletindo o esquema de infra-estrutura
implantado, tabelas de identificação e conexão de
segmentos, tabelas de caracterização de estações
e/ou qualquer outro tipo de documentação técnica
pertinente.
De acordo com Oppenheimer (1999):
Também é importante
que um documento de projeto contenha planos para
implementar a rede, medir o sucesso da implementação
e desenvolver o projeto de rede à medida que surgirem
novos requisitos de aplicativos. O trabalho do
projetista de rede nunca termina. O processo de
analisar requisitos e desenvolver soluções de
projeto começa novamente assim que um projeto
é implementado.
11. Conclusão
Independente do tamanho e do grau
de complexidade, o objetivo básico de um projeto
de interconexão de redes é garantir que todos os
recursos sejam compartilhados rapidamente, com segurança
e de forma confiável. Para tanto, a rede deve possuir
regras básicas e mecanismos capazes de garantir
o transporte seguro das informações entre os seus
elementos constituintes.
Para que o projeto seja bem sucedido,
o resultado do trabalho não deve apresentar apenas
qualidade técnica. Os ingredientes necessários para
um projeto de qualidade incluem persistência, objetivos
claros sobre o que se deseja alcançar, planejamento
para execução de todas as etapas envolvidas, consenso
entre os participantes do projeto e um cronograma
realista para a execução de todas as atividades
relacionadas.
Também é importante que a metodologia
de projeto selecionada não seja rígida a ponto de
inibir a criatividade e a busca por novas soluções.
Ela deve ser flexível, din�mica e estar sempre aberta
para acompanhar a evolução dos sistemas de informação.
Entretanto, qualquer metodologia tende a se tornar
ineficiente sem um bom plano de execução e manutenção
que a acompanhe. Para isto, existem programas de
qualidade que têm como objetivos racionalizar os
processos, desenvolver padrões e direcionar a organização
em busca da excelência almejada.
12. Referências Bibliográficas
Birkner, Matthew H, Projeto
de Interconexão de Redes � Cisco Internetworking
Design � CID; tradução de Fábio Fonseca de Melo.
Pearson Education do Brasil, São Paulo, 2003.
DiMARZIO, J F, Projeto e
Arquitetura de Redes: um guia de campo para profissionais
de TI. Editora Campus, Rio de Janeiro, 2001.
OPPENHEIMER, PRISCILA, Projeto
de Redes Top-down; tradução de Vandenberg Dantas
de Souza. Editora Campus, Rio de Janeiro, 1999.
PINHEIRO, JOS� M S, Implantação
de uma rede de computadores. Artigo disponível
em: http://www.projetoderedes.com.br/artigos. Acesso
em 20 ago 2003.