As redes de computadores
têm crescido muito, em tamanho e em complexidade.
Há duas décadas, o acesso à qualquer tipo de rede
de dados era restrita a um grupo de pessoas, composto
por cientistas, pesquisadores, tecnólogos e militares.
Hoje, redes de computadores tornaram-se parte essencial
de nossa infra-estrutura. A velocidade de crescimento
da Internet talvez seja um dos mais interessantes
fen�menos nesta área. Dentre os fatores que contribuíram
para tal crescimento, destaca-se o protocolo de comunicação
arquitetado por Robert E. Kahn e sua equipe, o Internet
Protocol ou, simplesmente, "IP".
O protocolo IP funciona
de modo análogo ao sistema postal. Ele permite o endereçamento
e o envio de um pacote, não estabelecendo, porém,
uma ligação direta entre o remetente e o destinatário.
Para que essa ligação seja estabelecida, o protocolo
IP deve agir em conjunto com um protocolo de camada
superior, como o TCP (Transmission Control Protocol).
Daí o termo TCP/IP.
A atual versão do
protocolo IP (versão 4) tem sido extremamente bem-sucedida.
A sua utilização possibilitou à Internet lidar com
redes de dados heterogêneas, com o constante avanço
tecnológico dos equipamentos, e com a alta escalabilidade.
Se o protocolo IP
atual funciona tão bem, por que, então, mudar? No
início, uma das principais motivações para a mudança
foi a limitação existente no esquema de endereçamento
da versão atual. Quando o protocolo foi definido,
existiam pouquíssimas redes de computadores em operação.
Os engenheiros responsáveis optaram, então, pela disponibilização
de 32 bits para endereçamento, suficientes para se
criar 16 milhões de redes, suportando, no total, 4
bilhões de máquinas conectadas. Suficiente para a
época, insuficiente para os tempos atuais, quando
a Rede praticamente dobra de tamanho a cada ano. Motivações
secundárias vieram do aumento crescente da complexidade
e dos requerimentos das novas aplicações e serviços
utilizados pela Rede. Aplicações que trabalham com
áudio e vídeo, por exemplo, precisam que seus dados
sejam transmitidos em intervalos regulares, do contrário,
há perda na qualidade do serviço o que, muitas vezes,
é inaceitável para aplicações dessa natureza. Para
manter esses dados fluindo pela Rede com harmonia
e const�ncia, o protocolo IP precisaria evitar a constante
mudança de rotas, inerente à redes baseadas na comutação
de pacotes (como são as redes IP) e definir prioridades
para o tráfego de pacotes com dados críticos - como
áudio e vídeo.
A nova versão, conhecida
como IPv6 ou IPng (Next Generation), surge como uma
resposta à essas deficiências. O IPv6 disponibiliza
128 bits para endereçamento (ao invés dos apenas 32
da versão antiga), suficientes para se obter 1.564
endereços distintos por m2 do planeta Terra. Esta
capacidade expandida de endereçamento é, até certo
ponto, compatível com o atual padrão, o que deverá
suavizar o processo de transição. Dentre as principais
melhorias trazidas pela nova versão, podemos destacar
as seguintes:
-
Extensão das
capacidades de endereçamento e roteamento
de pacotes
-
Suporte à
autenticação e privacidade
-
Suporte à
auto-configuração
-
Suporte à
seleção de rota
-
Suporte para
tráfego com Qualidade de Serviço (QoS) garantida
Conclusão
O IPv6, apesar de
incorporar algumas funcionalidades do IPv4, é um protocolo
totalmente novo, desenvolvido e arquitetado tendo
como foco uma verdadeira rede mundial e a capacidade
inerente de crescimento da mesma, tanto em tamanho
como em complexidade. Hoje, o foco da nova versão,
ao contrário do que se pensa, não é apenas a capacidade
virtualmente ilimitada de endereços, mas sim um gerenciamento
eficiente dos mesmos, a incorporação da Qualidade
de Serviço garantida (QoS) e a disponibilização de
ferramentas de segurança para a camada de rede. O
verdadeiro impacto dessa nova versão deverá ser sentido
apenas nos próximos 3 ou 4 anos. Uma infra-estrutura
experimental baseada na nova versão (apelidada de
"6bone") já vem sendo desenvolvida há algum
tempo. O Brasil vem participando deste projeto através
da RNP (Rede Nacional de Pesquisa) e do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).